quinta-feira, 1 de novembro de 2012

Uma Despedida

Uma Despedida


Partamos canções. Ela não vai ouvir.
Partamos daqui juntos sem recear.
Silêncio, a hora de cantar é finda, 
Finda as coisas antigas e queridas. 
Ela não nos ama como nós a amamos.
Sim, como os anjos cantamos  aos ouvidos, 
Mas não, ela não ouve.


Partamos daqui, ela não vai saber.
Partamos rumo ao mar, como ventos fortes
Cheios de areia e espuma; há alívio lá?
As coisas são assim, alívio não há,
E o mundo todo é amargo, como uma lágrima.
São assim as coisas, nós o mostramos,
Mas não, ela não sabe.


Partamos em paz, ela não vai amar.
Demos recordações de dias e sonhos,
Frutos imaturos, flores sem aroma,
Dissemos " Se quiser, fie a foice e ceife."
Tudo foi ceifado, não há grama a cortar
Semeamos, embora adormecidos,
Mas não, ela não chora.

Vamos repousar; ela não vai amar.
Ela não vai ouvir se isto cantarmos
Nem ver a senda do amor, pisada e abrupta.
Vamos pois, acalmem, deixem; é tudo que basta
O amor é um mar maninho, amargo e fundo;
Enxergou todo o céu em flores nas alturas,
Mas não, ela não ama

Vamos desistir; ela não vai cuidar.
Mesmo que os astros tenham tornado o ar em ouro,
E o mar tenha visto diante de si mover-se
Uma boa-noite a embelezar a flor-d'água;
Mesmo que as ondas nos cobrissem e se entornassem
Nos lábios rijos e cabelos inundados,
Mas não, ela não cuida.

Vamos, vamos embora; ela não vai ver.
Cantem juntos mais uma vez; quem sabe ela,
Também juntos mais uma vez; quem sabe ela,
Também lembrando dias e palavras idos,
Se volte um pouco para nós, a suspirar; mas nós,
Nós partimos, como se jamais lá estivéssemos.
Não, quem me viu de mim teve piedade,
Mas não, ela não vê.





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